witch lady

Free background from VintageMadeForYou

quarta-feira, 11 de abril de 2012

MEDO DE ESCURO





Ela tinha medo de escuro.

A escuridão pegou-a de surpresa, durante uma tempestade, em uma noite na qual o marido estava fora, em viagem. Ali onde morava, a escuridão era total. De repente, após um trovão, enquanto ela se encaminhava para a cozinha a fim de separar velas, fósforos e candelabros - já prevendo o que aconteceria - a luz acabou. E ela viu-se no meio do corredor negro, no meio da escuridão negra. Lá fora, a chuva torrencial.

Por um instante, ela não pensou em nada, sentindo o pânico que rastejava sinuosamente pelo chão, em direção às suas pernas, para subir por elas e agarrá-la totalmente. O coração dava pulos dentro do peito, querendo sair pela garganta, e ela não conseguia mover-se. Um relâmpago clareou tudo por alguns segundos, e ela deu alguns passos em direção à cozinha, aproveitando a breve claridade.

A chuva fustigava as vidraças. O vento, maldoso, assoviava pelas frestas. Vieram-lhe à mente cenas dos filmes de terror que assistira quando era criança. Disse a si mesma: "Você é uma mulher feita, não há nada na escuridão, apenas o seu medo." Assim, braços estendidos à frente do corpo, conseguiu chegar à cozinha às apalpadelas. E apalpando, abriu o armário. Derrubou algumas caixas de chá até tocar a caixa de fósforos . Também deixou cair a lembrancinha que trouxera da festa de casamento que fora na semana passada, antes de alcançar as velas.

Mãos ainda trêmulas, acendeu um fósforo e localizou o candelabro sobre a geladeira. Dali em diante, pensava, deixaria os três - candelabro, velas e fósforos - sempre ao alcance das mãos. Acendeu a vela, e quando ia virar-se para voltar à sala, onde estava antes, sentiu uma presença muito forte atrás de si. Parou, com o candelabro na mão, sem conseguir virar-se para trás. Um trovão ribombou, fazendo o chão tremer e os copos chacoalharem na cristaleira. Ela fechou os olhos, sentindo o medo voltar. Podia sentir alguma coisa atrás dela, que de vez em quando, tocava seu cabelo.

De nada adiantaria gritar, pois o vizinho mais próximo estava a mais de cinquenta metros, e com aquele temporal, ninguém a ouviria. Decidiu que se ficasse imóvel, aquilo - seja lá o que fosse - iria embora. Fechou os olhos. Um vento que entrou pela fresta aberta do basculante da cozinha apagou a vela. Ela se sentia dentro de um filme de terror, vivendo seu maior pesadelo. Achava que não sobreviveria àquela noite. Começou a rezar, logo ela, que não tinha fé. Prometeu que, se ela conseguisse sobreviver, tornar-se-ia uma católica devota.

Milagrosamente, a chuva começou a diminuir. A luz voltou, piscou algumas vezes e depois estabilizou-se. Ela sentiu os músculos retesados irem se afrouxando aos poucos, e suspirou, aliviada. Ao olhar para trás, deparou com a enorme borboleta Monarca pousada na parede.

Esqueceu-se de todas as suas promessas de fé e dedicação eternas.



3 comentários:

  1. Minha linda, hoje estou conseguindo vir aqui na maior facilidade. - Que coisa boa!!!! Obrigada pela belíssima participação na Ciranda '' Reflexão sobre o '' Mundo Poesia''. Estou muito feliz de verdade mesmo!!!!! Um beijo

    ResponderExcluir
  2. Esta borboleta monarca no final
    revela um confortante presságio
    para nós poeta
    que as vezes
    sofremos com a aflição do mundo
    mas ler este conto
    é como tomar uma copo de leite
    olhando para a Royal negra
    como a escuridão da noite
    mas tocada nas teclas
    revela poesia e relâmpagos
    maravilhosos...

    Luiz Alfredo - poeta

    ResponderExcluir
  3. Muito bonito Ana:Quando comecei a ler,pensei em uma cobra.Surpreendeu-me a meneira delicada com descreve o encontro e a surpresa com uma borboleta.Parabéns Ana.

    ResponderExcluir

Obrigada pela sua presença! Por favor, gostaria de ver seu comentário.

Parceiros

EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...