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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O CÃO SEM PLUMAS







O Cão Sem Plumas

(João Cabral de Melo Neto)




A cidade é passada pelo rio

como uma rua

é passada por um cachorro;

uma fruta

por uma espada.




O rio ora lembrava

a língua mansa de um cão

ora o ventre triste de um cão,

ora o outro rio

de aquoso pano sujo

dos olhos de um cão.




Aquele rio

era como um cão sem plumas.

Nada sabia da chuva azul,

da fonte cor-de-rosa,

da água do copo de água,

da água de cântaro,

dos peixes de água,

da brisa na água.




Sabia dos caranguejos

de lodo e ferrugem.




Sabia da lama

como de uma mucosa.

Devia saber dos povos.

Sabia seguramente

da mulher febril que habita as ostras.




Aquele rio

jamais se abre aos peixes,

ao brilho,

à inquietação de faca

que há nos peixes.

Jamais se abre em peixes.




Um comentário:

  1. O rio corre apesar da vida... Desvia os obstáculos e continua a correr até encontrar a sua imensidão, até se unir vastidão do oceano...

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