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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Na Minha Idade...










Fazer quarenta anos foi um marco, assim como fazer vinte, trinta... agora, aos quarenta e seis, encaminho-me para uma nova década que se aproxima cada vez mais. São fases, como pontes que cruzamos durante nosso caminho pela vida.


Me desculpe quem acha que é fácil envelhecer. Palavra feia, não é mesmo? ENVELHECER. Mas aceitemos a verdade de que este processo começa no momento em que nascemos, e a coisa fica um pouco mais fácil e natural. Ninguém nasce velho e começa a renovar-se, como no filme. E se é assim, deve haver um bom motivo.

Tudo na natureza aponta para este ciclo: nascer, crescer, envelhecer, morrer - embora nem sempre este ciclo siga esta ordem. Muitos se vão ainda bem jovens, e esta é a única maneira de não envelhecer. Mas não me parece uma idéia muito agradável, embora eu não tenha medo da morte e nem seja extremamente apegada à vida. Que aconteça o que tiver que acontecer! E quem sabe, exista uma continuação neste ciclo que a maioria de nós desconhece: renascer. Começar tudo de novo. Ter uma outra chance. Por que não? Que me provem o contrário.

Mas uma das coisas mais difíceis na minha idade, não é exatamente a própria decadência física: mas a decadência de nossos pais , parentes e amigos mais velhos que nos cercam. Não é nada fácil assistir aqueles que acostumamos a ter como pontos de referência em nossas vidas envelhecendo, adoecendo, tornando-se fracos, vulneráveis e, muitas vezes, perdendo a capacidade de raciocínio. De repente, nos vemos na posição de termos que assumir a responsabilidade pela família, um cargo que pode ser extremamente pesado e causar muita angústia, submetidos que somos às ansiedades e necessidades de nossos irmãos e pais - quando estes não são mais capazes de tomar decisões, como sempre.

Em toda família, existe aquele que substituirá os pais, quando estes não mais puderem ocupar a sua posição de liderança, ou pior, quando eles não estiverem mais por aqui. Geralmente, é o irmão mais velho. E cuidar de uma família não é tarefa fácil, especialmente quando os demais não se dão conta de que o outro precisa de ajuda. Colocam-se em uma posição confortável, assumindo que o mais velho cuidará de tudo, sem perceber a pressão que ele sofre, tanto física quando psicológica, emocional. E nem o fazem por maldade, e sim, pela vontade inconsciente de não assumirem riscos. "Aquilo para o qual eu não olho, não existe, e pronto!"

Na minha idade, vejo minha mãe, aos oitenta e cinco anos, cada vez mais entendendo que sua hora está chegando. Convencê-la a ir ao médico é uma dificuldade, pois ela diz que suas mazelas e dores são consequência da idade, e acha que não adianta, mesmo, 'já que está no fim.' Isto gera uma angústia em todos nós que gostamos dela, e desejamos vê-la bem. E acho que esta angústia vem exatamente da compreensão de que ela está certa. O fim está se aproximando. E vemos nela, na sua idade avançada e na sua fragilidade, o nosso próprio futuro. 

Observo o quanto as pessoas idosas veem sua posição mudar dentro da família. Antes, o que elas diziam era ouvido , acatado ou pelo menos, digno de uma boa reflexão. Agora, elas são ignoradas, deixadas em um canto enquanto os outros conversam, sentindo que ninguém está interessado em ouvir o que elas tem a dizer, que sua presença é tolerada compassivamente. Apenas tolerada. E quando essa tolerância acontece, podem considerar-se com sorte! Pois muitos não toleram seus esquecimentos, as mesmas perguntas que são feitas várias vezes, as coisas que caem de suas mãos frágeis e espatifam-se no chão. E talvez elas sejam tratadas assim porque nos fazem conviver com a nossa realidade futura a todo instante, e muitos de nós não sabem como lidar com ela.

Por favor, não me digam que é fácil envelhecer. Não me digam que é um processo natural da vida, pois disso, eu já sei, e saber não torna tudo mais fácil. Sei também que aceitar a vida e seus ciclos é a coisa mais sensata a se fazer, pois nada vai mudar se passarmos a vida fazendo pirraça contra aquilo que nos desagrada. Reconheço que a vida deve ser vivida e desfrutada com o máximo de alegria e gratidão em qualquer época e a qualquer idade, pois não sabemos o que o futuro nos reserva, e nem é saudável cogitar sobre isso.

Mesmo assim, e apesar de ser uma pessoa feliz, envelhecer não é fácil.



terça-feira, 3 de abril de 2012

Mudando Sempre...





Há uma certa necessidade de permanência em mim. Gosto de morar onde moro, estou há vinte e sete anos com a mesma pessoa (casada há quase vinte e dois anos) e sou bastante conservadora daquilo que aprecio. Mas existe também - confesso - uma certa impermanência em meu desejo de permanência.

Explico: adoro mudar as cores e organização de meus espaços! Em minha casa, por exemplo, frequentemente troco as capas das almofadas, as cortinas e a disposição dos móveis. Gosto de comprar novos adornos, 'aposentando' os antigos por algum tempo, trocando-os de lugar ou até mesmo, fazendo doações. Na minha maneira de vestir-me, essas mudanças também ocorrem frequentemente. Tenho cores predominantes, em certas épocas. Já fui pink, preto, amarelo, branco, azul... atualmente, acho que estou em transição, do verde para alguma outra cor que ainda não escolhi qual será.

Da mesma maneira, é meu blog. Gosto de trocar o plano de fundo, as cores, as letras... e também adoro escrever sobre absolutamente todos os assuntos que me interessam: poemas, crônicas, contos, artigos, Haikais, romances, resenhas... sempre gosto também de variar no conteúdo; às vezes, escrevo sobre a tristeza, e outras vezes, sobre a alegria, o ciúme, a inveja, a felicidade... todos os sentimentos humanos já passaram sob a minha pena, assim como em minha vida. Escrever sobre eles, ajuda-me a entendê-los.

Também sou assim quanto a mudar de opinião, se necessário. Não costumo agarrar-me a uma idéia apenas porque ela foi a primeira idéia que me ocorreu, ou a que alguém me ensinou. Mudar de opinião e alcançar uma nova visão sobre as coisas faz parte do crescimento, e ater-se a dogmas, o paralisa.

A leitura faz parte de mim, e gosto de ler sobre vários assuntos. Mas, acima de tudo, não sei viver sem escrever! Só me sinto completa quando escrevo todos os dias.

Minha vida pode parecer sempre a mesma para quem me observa - uma simples professora, que dá aulas particulares em sua própria casa - mas eu posso garantir que, todos os dias quando acordo, olho para as mesmas coisas, mas sempre com um novo olhar! Jamais sinto-me entediada durante muito tempo. E quando me sinto entediada, é porque por algum motivo, não estou bem. Mas trato de mudar de atitude assim que posso!

A vida nunca é a mesma, basta que tenhamos sobre ela um olhar sensível e apreciativo. Assim, embora eu seja, em essência, a mesma pessoa, meus gostos e o ambiente à minha volta estão sempre mudando. Aos poucos, mas também radicalmente.

A ESPOSA FADA - Um conto







Um conto baseado em lendas Celtas.


Rodolfo acordou no meio da noite, e ainda parcialmente habitando os sonhos, olhou para o lado. Viu-lhe a silhueta desenhada sob as cobertas, que se erguia levemente, conforme ela respirava em seu sono tranquilo.

Uma onda de amor e paixão inundou-o. 

Lembrou-se de como a conhecera, há um ano e seis meses: 

Caminhava pela floresta após o almoço, a mesma velha floresta pela qual costumava caminhar desde os seis ou sete anos de idade (naquele tempo, escondido de seus pais, que temiam que se perdesse). Conhecia o que estaria depois de cada curva, e cada canto de pássaro. A floresta era como se fosse sua segunda mãe, pois vira-no crescer, transformar-se em um homem. Ela o protegera e o escutara em seus momentos de dificuldades, sempre respondendo às suas questões e acalmando suas ânsias como o faria uma dedicada mãe, através do sussurro do riacho, do canto dos pássaros e do beijo sibilante do vento.

Como eu já disse, Rodolfo conhecia cada curva da floresta; por isso mesmo, ficou estarrecido ao ir ter à beira de uma fonte que parecia ter aparecido do nada, no meio das árvores, onde uma linda moça banhava seus pés. Parou, encantado diante da beleza da cena:

A jovem, vestida com uma túnica branca diáfana, estava sentada na beirada do riacho, e a água que caía de uma pequena fonte fazia bolhas em volta de seus pés. Os cabelos, muito claros e longos, caíam-lhe em cascatas até a cintura, e uma grinalda de flores do campo ornava-lhe a cabeça. A pele era tão branca e delicada, que Rodolfo comparou-a aos cogumelos que cresciam em seu jardim, no meio da grama, e que ressecavam aos primeiros raios de sol.

Ela ergueu os olhos e olhou para ele como se o conhecesse. Não houve qualquer sobressalto. E ele também teve uma estranha sensação de já tê-la encontrado antes, mas em um tempo tão remoto, que apenas uma leve bruma de memória conseguia chegar até ele, e uma bruma tão leve quanto breve.

Desde então, eles passaram a encontrar-se ali todas as manhãs. E mesmo que estivesse chovendo torrencialmente, ali naquele ponto na clareira da floresta, uma nesga de sol brilhava.

Ela aceitou casar-se com ele, para seu alívio, pois Rodolfo não concebia a idéia de viver longe dela; preferiria morrer!

Mas ela impôs algumas condições:

-Ele jamais deveria fazer perguntas sobre ela; de onde viera, quem era sua família, ou que forma de vida ela era.
-Jamais deveria abrir um pequeno baú que ela guardava sempre junto a si, e nem indagar-lhe o que ele continha.
-Ela precisaria ficar algumas horas por dia totalmente só, e ele jamais poderia seguí-la, questioná-la ou espioná-la.
-Na primeira noite de lua-cheia, ela iria para a floresta. Nem foi preciso dizer que o faria sozinha, e que ele não deveria seguí-la jamais!
-Eles teriam que viver para sempre junto àquela floresta.

Recordando-se daqueles tempos, Rodolfo percebeu quando a esposa acordou, pois o rítimo de sua respiração tranquila mudou. Ele fingiu que ainda dormia, enquanto ela se levantava e, abrindo a porta do chalé, saía pela noite enluarada, a barra da camisola esvoaçando atrás de si, e ela, mergulhando na floresta escura até desaparecer.

Todas as noites de lua cheia, quando ele a via sair, sentia curiosidade em saber o que ela fazia. Encontrar-se-ia com alguém? O ciúme o dominava, mas lembrava-se da promessa feita a ela, e forçando a sua própria natureza, não a seguia. Naquela noite em especial, estava tão ansioso que decidiu ir até a pequena cozinha preparar para si um pouco de chá.

Foi quando deparou com o pequeno baú na prateleira da despensa. Uma estranha luz azulada saía pelas frestas da madeira. Imediatamente, Rodolfo começou a tremer de curiosidade, e mesmo fazendo todo o esforço que conseguia para conter sua curiosidade, acabou pegando o pequeno objeto e, ainda hesitante, abriu uma pequena fresta da tampa...

Foi o suficiente para que a luz azul escapasse, em uma explosão de raios que dominaram toda a pequena casa! Quem estivesse passando na floresta àquela hora, teria visto uma luz azul que explodia para fora do chalé, através de portas, janelas, chaminé e frestas, iluminando tudo em um raio de quilômetros!

Quando ele despertou, estava caído no chão da cozinha, e o baú, tinha desaparecido. Assim como desapareceram todo e qualquer traço da presença de sua esposa pela casa. Ele procurou pela cesta de palha que ela tecera durante a manhã; também olhou dentro das panelas, e a comida tinha desaparecido. Todas as coisas feitas por ela - cortinas lindamente confeccionadas, cestos, pequenos candelabros delicados, flores que ela colhia e nunca murchavam, enfim, tudo desaparecera. A cabana era apenas um lugar nu, gelado e sem-vida.

Ele correu para a floresta, e tentou em vão encontrar a clareira onde tinham se conhecido.
Chamou por seu nome. Chorou copiosamente, gritando ao luar o seu arrependimento. Mas ninguém respondeu-lhe. 

Quando o dia amanhecia, voltou para a casinha. Olhou-se no espelho: era um homem velho.



A IGREJA NO TOPO DO MORRO







Ela é muito, muito antiga. Branca e absoluta. Fico imaginando quantas damas em seus vestidos rodados e armados, acompanhadas por seus cavalheiros, já olharam lá de cima para a cidade cá em baixo. Talvez soltando no ar uma prece, sabe-se lá pelo quê... Pelo quê rezavam as pessoas, há duzentos, trezentos anos atrás?

Eu já estive lá em cima. Mas eu não rezei. Limitei-me a olhar para baixo, deixando a mente passear entre as casas e prédios, e o vento a zumbir em meus ouvidos. Apenas olhei o mar lá de cima, e sentei-me à porta fechada da velha igreja, sem nenhum pensamento. Embebida pela beleza que me cercava, quis apenas sentí-la, ser parte dela.

Da experiência, ficou uma foto: eu, aos dezessete anos, queimada de sol, pernas cruzadas e olhar triste (até hoje, todos dizem que tenho um olhar triste) ao lado de meu pai. Hoje, exatamente hoje, que o céu está encoberto e o vento muito forte, lembrei-me daquele dia. Na foto, apareço de camiseta azul-marinho e shortinho vermelho. Meu pai, a camisa estampada aberta no peito, as mãos entre os joelhos.

Neste momento, a igreja no topo da montanha é apenas solidão. Seu sino já não dobra mais. Turistas descem e sobem o morro, tiram fotos, olham o mar e depois, se esquecem. A velha igreja está exatamente como as damas antigas e seus vestidos rodados: perdida no tempo. Ninguém sabe para onde elas foram. Às vezes eu penso se, por um acaso, aquela igrejinha no topo da colina não será apenas uma miragem, que só continua lá para que as damas e seus cavalheiros tenham um lugar para onde voltar, quando se cansam de suas peregrinações pelo além...



Nascimento






A noite chega ao fim, 

Ávida e grávida

De um novo dia.




Parido no escuro,

Ele começa, frágil,

Como se fosse

Uma nova vida.




Ao meio dia, ele grita,

Cheio de ânsia e alegria,

Que vai sossegando

Conforme ele vai, à tarde,

Morrendo...




Ao crepúsculo, engravida,

Guardando em si, um segredo

Que prepara, e cresce no ventre:

O filho que nunca verá,

Um outro dia

Que vai nascer.




segunda-feira, 2 de abril de 2012

SOBRAS


SOBRAS


Migalhas, farelos, sobras,
Água salobra nas covas
Champanha choca nas taças
Pedaços de pão dormido
E um cheiro nauseabundo
De sonhos apodrecidos.

Murcharam as mudas novas
E as uvas, saborosas
Secaram todas nas vinhas
Na sêca daquela tarde
Debruçadas sobre o pó
De um sujo chão de mármore.

Dizem que houve uma prece
E um funeral, mas duvido
Que tenha havido descanso
Um paraíso, um remanso,
Para tantas almas podres.

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Minha homenagem àqueles que roubam de quem já não tem quase nada.







Morte na Manhã



Morte na ManhãAcordei cedo no domingo, e fui até a sala dar o meu 'bom dia' à Latifa, que olhava para dentro através da porta de vidro da varanda. Por trás dela, encolhida junto à pilastra de madeira, vislumbrei uma pequena sombra escura e imóvel. Apertei os olhos para enxergar melhor - minha visão anda meio-ruim ultimamente - e percebi que o bolinho escuro respirava fracamente.


Dei a volta pela porta da cozinha, e fui ver de perto: um filhote de pombo.


Não sei o que o deixou naquele estado semi-morto, pois a Latifa o ignorava solenemente, e não havia penas arrancadas no chão ou marcas de ferimento que denunciassem um ataque de Rottweiler. Ele estava fisicamente íntegro. Cutuquei-o com a ponta dos dedos do pé, e ele abriu os olhos, assustado. Fui até a área de serviço e peguei um pano felpudo, com o qual eu o enrolei (estava frio) e coloquei-o do lado de fora, à porta da cozinha, fechando o portãozinho de acesso para que a Latifa não o perturbasse. Lavei o copinho de iogurte que eu tomara no café da manhã e enchi de água, e coloquei perto dele junto com um pedacinho de pão.


Pensei no quanto os pombos me irritam, sujando tudo, invadindo a casa e ficando desesperados ao não encontrar a saída, voando, derrubando coisas e sujando chão e paredes, soltando penas e sabe-se lá o que mais. Pensei na vasilha de ração da Latifa, que, se esquecida do lado de fora após ela comer, fica cheia de sujeira de pombo, os grãos espalhados por todos os lugares. Pensei na área de serviço salpicada de sujeira pela manhã, que eu às vezes tenho de lavar e desinfetar. Mas aquela criatura frágil e indefesa não me despertou nenhuma raiva: apenas piedade.


Bem, fiz o que pude por ele. Pelo menos, coloquei-o em um lugar seguro, aquecido e protegido do vento. Voltei para o quarto e continuei assistindo meu filme.

Horas depois - já tinha até me esquecido do pombo - eu desci novamente, e lembrando-me dele, fui ver como estava. Tinha morrido.

Eu não conhecia aquele pombo; nem era um animal de estimação. Assim como ele veio ao mundo, foi-se dele. Ninguém choraria por ele, ou sentiria a sua falta. Mas a manhã foi cortada ao meio, pelo evento mais temido pela maioria dos seres humanos, que se deu bem na porta de minha casa: a morte. E fiquei pensando se a morte de um simples pombo, para a vida, é muito diferente da morte de qualquer um de nós.





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Alguns falam de doçura, Desconhecem O regurgitar das abelhas, O mel que se transforma dentro delas, Dentro das casas de cera. Falam do luxo ...